O Sono: um aliado essencial para a nossa Saúde Física e Psicológica

O sono constitui um elemento fundamental na vida de qualquer mamífero, sendo uma necessidade básica para garantir a sua sobrevivência.

Em relação aos/às humanos/as, especialmente, o sono apresenta inúmeros benefícios para além das questões de sobrevivência, por exemplo, favorece a criação de novas memórias, ajuda-nos a fazer uma gestão mais adequada das nossas emoções e, também, a processar as nossas experiências diárias.

De um modo geral, o sono contribui para que nos sintamos bem, satisfeitos/as, com energia e mais felizes.

Contudo, para dormir bem, não é suficiente dormir apenas um número de horas específico, mas sim dormir o número de horas necessário e com qualidade, ou seja, dormir cerca de 8 horas por noite sem perturbações ou interrupções, no caso dos adultos.

De facto, quando não dormimos um número de horas suficiente ou quando não dormimos bem de modo frequente, o nosso nível de funcionalidade e de produtividade diário fica comprometido, verificando-se um prejuízo a nível físico, psicológico e emocional a vários níveis (p. ex. dificuldades de memorização e/ou de concentração, falta de motivação e/ou dificuldade na tomada de decisões), que influencia a forma como nos vamos sentindo ao longo do dia, mas também o modo como agimos e nos relacionamos com as outras pessoas.

Além disso, dormir pouco e/ou mal contribui para aumentar o risco de desenvolvermos um conjunto de doenças a nível físico (p. ex. problemas de origem metabólica), verificando-se também um enfraquecimento do nosso sistema imunitário, e o aparecimento de dificuldades e problemas a nível psicológico.

Apesar de existirem patologias e desequilíbrios a nível psicológico que exercem uma influência negativa na quantidade e qualidade do sono como, por exemplo, a ansiedade, a depressão e/ou stress, também a ausência de noites bem dormidas contribui para o aparecimento e agravamento destes problemas e dificuldades.

Por outro lado, é importante realçar que cada um de nós acaba por ter necessidades de sono diferentes, principalmente se tivermos em consideração parâmetros como a faixa etária em que nos encontramos.  No entanto, existe um número de horas recomendado, entre 7 a 9 horas de sono por dia, para adultos.

Neste sentido, a adoção de bons hábitos de higiene de sono são essenciais para dormirmos bem e no número de horas recomendado, contribuindo assim para um estilo de vida mais saudável, com qualidade de vida, assim como para o aumento e manutenção da nossa saúde física e psicológica.

Assim sendo, se é uma pessoa que tem tendência para dormir mal e dá por si a deitar-se com o seu trabalho ou com outro tipo de preocupações, é importante começar a fazer as pazes com o seu próprio sono e período de descanso, começando pela adoção de hábitos saudáveis de higiene de sono que o/a ajudarão a dormir bem e a sentir-se revigorado/a ao longo do dia. Desta forma, estará a cuidar de si, do seu bem-estar e da sua saúde no geral.

Posto isto, existem algumas sugestões saudáveis de higiene do sono que pode tentar implementar na sua rotina para dormir mais e melhor.
Por exemplo:

  1. Encarar o sono como uma prioridade, respeitando a sua rotina de sono todos os dias e o número de horas necessário que deve dormir diariamente;
  2. Reunir condições adequadas que favoreçam uma boa noite de sono como, por exemplo, iluminação e temperatura do quarto adequadas, ter uma almofada, colchão e/ou pijama confortáveis, salvaguardar-se de ruídos e/ou barulho, etc.
  3. Implementar uma rotina de sono antes de dormir, que inclua um período de relaxamento que o/a vai preparar para dormir.
  4. Realizar atividade/exercício físico durante o dia.
  5. Limitar o consumo de alimentos, bebidas e/ou substâncias estimulantes a partir do final da tarde.
  6. Diminuir a sua exposição aos ecrãs e a luz artificial, principalmente, a partir do final do dia e antes de se deitar.

É importante realçar que existem várias ações de higiene do sono que pode tentar implementar na sua rotina diária, sendo natural que não atuem e resultem todas da mesma maneira de pessoa para pessoa, uma vez que todas as pessoas são distintas entre si e têm necessidades e contextos de vida diferentes.

O importante é que valorize a importância que um sono adequado pode ter na sua vida e tente encontrar as estratégias que melhor resultam para si e para a sua situação atual.

Caso sinta que não consegue resolver as suas dificuldades e problemas de sono sozinho/a, é importante procurar ajuda.

Um/a Psicólogo/a pode ajudá-lo/a a lidar com as suas dificuldades em adormecer e/ou manter uma boa noite de sono, sem interrupções, da mesma forma que o/a poderá ajudar a lidar com as emoções e pensamentos negativos que surgem ao longo do dia, mas principalmente, durante o seu período de descanso.

Fotografias de Meruyert Gonullu, Ivan Oboleninov, cottonbro studio e Ivy Son.

Olá, Primavera!

Como lidar com as variações psicológicas e emocionais sentidas na mudança de estação?

Para muitas pessoas, a mudança entre estações do ano provoca determinadas alterações a nível fisiológico, psicológico e/ou emocional, que surgem, habitualmente, associadas a variações comportamentais que podem apresentar distintos níveis de gravidade.

De facto, para pessoas mais sensíveis à mudança de estação e respetivas alterações no clima, podem surgir diferentes variações ao nível do humor, no apetite, no sono e/ou nos níveis de ansiedade e de energia/cansaço, sendo comum surgirem aumentos ou diminuições significativos em relação aos níveis considerados habituais para uma determinada pessoa.

Estas variações são originadas, em parte, pela diminuição ou aumento do número de horas de luz solar diário, com a respetiva diminuição ou aumento do nosso número de horas de exposição solar, o que, por sua vez, gera alterações no nosso ritmo circadiano (relógio biológico), na nossa rotina e horários habituais (inverno/verão), podendo condicionar também, a nossa produção de neurotransmissores (p. ex. serotonina, dopamina, melatonina), que influenciam significativamente o nosso humor, os nossos níveis de ansiedade, a qualidade do nosso sono, os nossos níveis de apetite, a nossa libido, entre muitos outros parâmetros.

Por outro lado, apesar de ser mais comum encontrar estas variações no outono ou no inverno, associadas, nessas estações do ano, a um encurtamento dos dias e uma menor exposição solar, também é possível verificarem-se, em algumas pessoas, alterações na primavera, ligadas em parte, a uma necessidade de adaptação do seu organismo a um novo horário (verão) e a uma nova rotina (p.ex. de sono, de alimentação, de trabalho).

Estas variações fisiológicas, psicológicas, emocionais e comportamentais podem influenciar consideravelmente o nosso nível de funcionalidade diário, bem como o nosso nível de satisfação e de bem-estar.

Neste sentido, poderá ser importante estar atento/a a alterações significativas que possam ocorrer ao nível do seu funcionamento habitual, nesta mudança de estação, e que possam estar a condicionar notavelmente o seu bem-estar como, por exemplo, um cansaço extremo e uma falta de energia, uma tristeza e/ou apatia profundas, uma falta de interesse por atividades que anteriormente lhe davam prazer, um aumento dos níveis de ansiedade e/ou de agressividade ou um aumento/diminuição significativos do seu apetite e/ou qualidade de sono, entre outros.

Adicionalmente, existem também algumas atividades de autocuidado que podem contribuir para minimizar os efeitos destas alterações e aumentar o seu bem-estar, e que pode implementar numa base diária, por exemplo:

  • Manter bons hábitos de alimentação, de sono e de atividade física;
  • Passar algum tempo diariamente em contacto com a natureza ou períodos mais prolongados semanalmente;
  • Aproveitar os períodos de bom tempo e de luz solar para estar no exterior e aumentar a sua exposição solar diária (com as respetivas recomendações de prevenção a este respeito);
  • Passar tempo com as pessoas e os animais que são importantes para si;
  • Realizar atividades relaxantes e que o/a façam sentir-se bem como, por exemplo, ler um livro, ouvir música e/ou meditar.
  • Evitar ou reduzir o consumo de álcool e/ou de outras substâncias psicoativas, uma vez que estes comportamentos podem agravar o seu estado emocional e sentimentos negativos.

Contudo, lembre-se que, para ser saudável e alcançar um estado de equilíbrio físico e de bem-estar geral, é necessário cuidar também da sua saúde psicológica.

Nesta perspetiva, importa realçar que se sentir que não está a conseguir ultrapassar estas variações sozinho/a e que poderá ser demasiado para si, lembre-se que pode sempre procurar a ajuda profissional de um/a Psicólogo/a.

O/A Psicólogo/a procurará ajudá-lo/a a diminuir o seu mal-estar físico e psicológico, assim como procurará ajudá-lo/a a conhecer-se melhor, ao nível do seu funcionamento interno e das suas vulnerabilidades, trabalhando consigo para que desenvolva estratégias e competências que lhe permitirão enfrentar adequadamente e autonomamente os seus desafios e dificuldades, atuais e futuros, e aumentar o seu bem-estar e a sua saúde no geral.

Não se esqueça que, ao cuidar de si e da sua saúde psicológica, está também a fortalecer a sua capacidade de cuidar daqueles que são importantes para si e que preenchem a sua vida.

Fotografias por ordem de visualização: Pixabay, Maria Orlova, Anna Shvets e SHVETS production.

Guerra na Ucrânia: gerir emoções e sentimentos em contexto de crise

Após dois anos de pandemia por COVID-19, juntamente com a crise social e económica que dela decorreu, eis que nos defrontamos com uma guerra e com todas as consequências nocivas que lhe estão associadas. Estes eventos, pela sua natureza imprevisível, contribuem para aumentar de forma significativa os nossos sentimentos de incerteza e de insegurança. Adicionalmente, esta constante exposição a momentos de crise agrava os nossos sentimentos de vulnerabilidade, levando a que nos sintamos exaustos e desesperados, o que acaba por degradar a nossa saúde psicológica e o nosso bem-estar.

De facto, para a grande maioria das pessoas, é muito complicado não se sentirem preocupadas e perturbadas perante uma situação de guerra e uma crise humanitária, principalmente, quando são confrontadas diariamente com conteúdos sobre destruição, violência, desrespeito pelos direitos, dignidade e integridade das pessoas, bem como com imagens que demonstram o sofrimento e o desespero pelo qual estão a passar as pessoas e os animais que estão a lutar pelas suas vidas. Efetivamente, para a maioria das pessoas, é muito complexo tentar encontrar um sentido para esta situação que nos impressiona e consideramos ilógica.

Assim, mesmo a milhares de quilómetros, é praticamente inevitável que não sintamos compaixão e empatia por estas pessoas, que são iguais a nós, assim como sentimentos de choque e de revolta, por terem de passar por estes momentos aterradores. Portanto, a guerra acaba por afetar-nos a todos de forma direta ou indireta pela sua complexidade, podendo mesmo comprometer a nossa gestão emocional em relação a tudo aquilo que temos vindo a sentir nos últimos tempos.

É natural que possamos sentir alguma preocupação, stress, ansiedade, tristeza, medo e angústia, bem como irritação e/ou impotência, ou até mesmo alguma apatia e choque perante tudo aquilo que temos presenciado. Do mesmo modo, podemos ainda apresentar alguma dificuldade em dormir, em concentrarmo-nos e/ou em tomar decisões.

Posto isto, esta sobrecarga emocional, associada ao carácter imprevisível das crises, pode suscitar algumas inseguranças e dúvidas em relação ao futuro, pela noção que temos de perda de controlo sob as circunstâncias e/ou pelo impacto que as dificuldades socioeconómicas terão nas nossas vidas.

Por outro lado, as pessoas que têm família e/ou amigos na Ucrânia ou na Rússia poderão ser impactadas em maior grau a nível emocional, tal como outras pessoas que se encontram atualmente em posições de maior vulnerabilidade ligadas a aspetos socioeconómicos como, por exemplo, o desemprego e/ou precariedade, o estigma e/ou exclusão social ou a pobreza, podendo levar ao aparecimento e/ou aumento de dificuldades e/ou problemas de saúde psicológica (p. ex. ansiedade, depressão).

“Parem a guerra”.

Possivelmente, não dependerá de nós a modificação do rumo dos eventos mundiais, contudo, a forma como lidamos e reagimos perante estes momentos de crise pode ser gerida por nós. Ou seja, podemos escolher tentar adaptarmo-nos e gerir os nossos pensamentos e sentimentos da melhor forma que nos for possível e ajudar ou contribuir com aquilo que podemos.

Algumas sugestões que poderá experimentar para lidar de um modo mais adequado com aquilo que tem sentido nas últimas semanas são:

  • Diminuir a exposição em demasia a notícias e consultar sempre fontes credíveis de informação;
  • Aceitar as suas emoções e sentimentos e possíveis variações de humor e/ou de motivação que possa apresentar durante este período;
  • Partilhar o que pensa e sente com familiares ou amigos em quem confia;
  • Fortalecer as suas ligações e relações com as pessoas de quem gosta;
  • Investir em atividades de autocuidado e em estratégias de gestão da ansiedade e/ou stress;
  • Vigiar a sua saúde psicológica e bem-estar, observando atentamente o aparecimento de indícios e/ou comportamentos em si mesmo/a e nas pessoas que o/a rodeiam de que “algo não está bem”;
  • Viver no presente, um dia de cada vez, tentando desenvolver e reforçar a sua capacidade de adaptação e a sua resiliência perante as mudanças e os desafios que estes momentos de incerteza lhe trazem;
  • Encontrar meios de ajudar (p. ex. donativos, mobilização e articulação de recursos e/ou de pessoas), o que pode ajudá-lo/a a encontrar um sentido e/ou um objetivo e contribuir para aumentar a sua perceção de controlo perante estes momentos de crise que nos encontramos.

No documento intitulado “A guerra afecta-nos a todos – gerir emoções e sentimentos em situações de crise”, poderá encontrar mais sugestões e detalhes que o/a poderão ajudar a lidar com aquilo que sente neste momento.

Em todo o caso, alimentar a esperança perante um contexto social e económico adverso pode ajudar a aliviar e a combater o sofrimento psicológico que cada um de nós poderá sentir neste momento. Infelizmente, não será suficiente para alcançar o equilíbrio psicológico, mas poderá favorecer consideravelmente o alcance do mesmo.

No entanto, se sentir que não está a conseguir gerir adequadamente os seus pensamentos e sentimentos e/ou se aquilo que está a sentir e a pensar estiver a comprometer de modo significativo o seu funcionamento quotidiano, ou seja, os seus hábitos de sono e/ou de alimentação, a sua capacidade de realizar adequadamente as suas tarefas diárias, de cuidar de si mesmo/a a vários níveis e/ou de se relacionar com as outras pessoas, deve procurar ajuda profissional.

Um/a Psicólogo/a pode ajudar-nos a lidar com experiências de vida difíceis (atuais ou passadas) e a compreendermos os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por outro lado, pode ajudar-nos a arranjarmos estratégias mais adaptativas para lidarmos com esses mesmos pensamentos, sentimentos e comportamentos quando estes comprometem o nosso funcionamento diário e as nossas relações interpessoais e, consequentemente, a nossa saúde psicológica e o nosso bem-estar.

Cada um de nós, por diferentes razões e em fases distintas da sua vida, pode tirar algum proveito de ser acompanhado por um/a Psicólogo/a, e isso não é motivo de vergonha.

Pedir ajuda nunca é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem e responsabilidade.”

Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2022

Referências:
Carqueja, R. (2022, 2 de março). Psicologia em Tempo de Guerra: A Guerra e o Medo. Disponível em: https://cnnportugal.iol.pt/ucrania/eduardo-carqueja-psicologia-em-tempo-de-guerra-a-guerra-e-o-medo/20220302/621e73700cf2cc58e7e60904 (21.03.2022).
Carvalho, R. G. (2022, 26 de fevereiro). Psicologia em Tempo de Guerra: Domínio, identidade, (des)ânimo?. Disponível em: https://cnnportugal.iol.pt/ucrania/renato-gomes-carvalho-psicologia-em-tempo-guerra-dominio-identidade-des-animo/20220226/62192eee0cf2c7ea0f1b89f7 (21.03.2022).
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2022). A GUERRA AFECTA-NOS A TODOS – Gerir emoções e sentimentos em situação de crise. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/opp_aguerraafecta_nosatodos.pdf (21.03.2022).

Fotografias por ordem de visualização: Katie Godowski, Mathias P.R. Reding, SHVETS production.